Transporte de Carga
24/01/1953 – Nesta data foi
oficialmente inaugurada a eletrificação da Ferrovia Curitiba/Paranaguá, no
trecho de 36 km entre a capital e a estação de Banhado, conforme atesta a Placa
Comemorativa (ver conteúdo abaixo) pendurada na parede externa da entrada do
belíssimo Museu Ferroviário de Curitiba (funcionando e aberto ao público na
antiga Estação Ferroviária da Avenida Sete de Setembro). Participaram desta
cerimônia de inauguração o Presidente Getúlio Vargas e várias autoridades do
governo federal e estadual.
“CONDUZINDO OS
EXCELENTÍSSIMOS SENHORES DRS GETÚLIO VARGAS, PRESIDENTE DA
REPÚBLICA; ALVARO DE SOUZA LIMA, MINISTRO DA VIAÇÃO; BENTO MUNHOZ DA ROCHA
NETO, GOVERNADOR DO ESTADO, E OUTRAS AUTORIDADES FEDERAIS, ESTADUAIS E
FERROVIÁRIAS, DESTA ESTAÇÃO PARTIU EM 24-1-1953 O TREM INAUGURAL DO PRIMEIRO
TRECHO ELETRIFICADO DA LINHA CURITIBA-PARANAGUÁ.“
Não deixa de
ser significativo esta evolução na tecnologia do transporte ferroviário de
carga daquela época. Poder contar com
10 novas e modernas locomotivas de tração elétrica significava diminuir custos
numa linha com elevado tráfego de cargas em ambas as direções. Estas
locomotivas foram importadas da Inglaterra, da empresa Metropolitan-Vickers em
1952. Tinham potência de 900 HP, comprimento de 13 metros e pesavam 49 toneladas.
O projeto era
mais ambicioso, pois previa eletrificar toda a extensão da ferrovia entre
Paranaguá e Curitiba (110km) e adicionalmente o trecho entre Curitiba e a
estação de Engenheiro Bley (80km), na direção de Ponta Grossa. A eletrificação
adotava o padrão brasileiro de 3kV em corrente contínua, com estações
retificadoras distribuídas no percurso.
O
empreendimento foi planejado a partir de 1948 pela Rede de Viação Paraná-Santa
Catarina (RVPSC) e contava também com a iniciativa de se construir a Usina
Marumbi, hidrelétrica dimensionada para dar conta desta empreitada, situada em
plena Serra do Mar. Problemas orçamentários e financeiros acarretaram diversos
adiamentos tanto nos cronogramas de obras da eletrificação da ferrovia quanto
na construção da hidrelétrica. As obras na Usina Marumbi só foram iniciadas em
1954 e sua conclusão se arrastou até 1961. Neste meio tempo houve inclusive
tentativas no sentido de alienação da usina para a Copel (Companhia Paranaense
de Energia) e com os recursos da venda concluir a eletrificação da ferrovia. A
transação só aconteceu, entretanto, em 1997.
A operação da
linha eletrificada durou de 1953 a 1967 e durante este período o tráfego de
trens puxados por locomotivas elétricas ficou restrito ao trecho inaugurado em
1953. Neste tempo a energia elétrica necessária foi gerada por uma usina a óleo
diesel instalada nas dependências da RVPSC em Curitiba. Em 1967 o sistema foi
definitivamente desativado.
Consta que das
10 locomotivas elétricas, 9 foram transferidas para outra empresa ferroviária
que adotava esta mesma tecnologia e 1 foi preservada como acervo histórico.
Reservatório da Usina Marumbi na
Serra do Mar (Morretes), que represa o rio Ipiranga. Localiza-se a 3km da usina
e a água corre por duas tubulações de aço até a casa de força, com desnível de
quase 500m.
Ao lado da Rodo-Ferroviária de Curitiba há garagens e
oficina para trens e litorinas, e a foto abaixo foi tirada do lado de fora
destas garagens, onde é possível observar a locomotiva elétrica junto a velhos
vagões de passageiros. Somente uma destas locomotivas permaneceu em Curitiba,
mas não foram tomados os cuidados necessários para sua preservação, pois sua
aparência externa é lamentável. Há notícia que restaram no Brasil somente esta
e mais outra e, portanto, trata-se de uma raridade perfeita para exposição em
museus, por exemplo. Observa-se que hoje as locomotivas a vapor são as
prediletas dos órgãos de resgate da memória, demonstrado pela grande quantidade
de veículos restaurados e expostos em museus, parques, praças, etc e até outras
mais, como patrimônio de comerciantes de “ferro-velho”. Outrossim, a presença
de locomotivas elétricas para transporte de cargas no Brasil foi menor, o que
acarreta em maior raridade.
Decorridos quase cinco décadas da desativação destes
veículos em Curitiba a ABPF-PR (Associação Brasileira de Preservação
Ferroviária – Regional Paraná) incorporou em seu patrimônio vários veículos
antigos, incluindo a locomotiva elétrica assumindo o compromisso de no futuro
restaurá-la e apontar o destino desta relíquia, que não pode ser esquecida,
pois é inestimável o seu valor histórico para a memória ferroviária, para a
memória da cidade, para a memória da tecnologia e principalmente como legado de
preservação para as gerações futuras.
Locomotiva Elétrica
junto a garagem-oficina de trens ao lado da Rodo-ferroviária de Curitiba
(12/03/2010)