Energia - Novas tecnologias e tendências - Geração doméstica

Geração Doméstica


Depois da Geração Distribuída mexer com os conceitos arraigados das redes de distribuição de média tensão, até então quase na totalidade exclusivamente dedicadas ao acesso apenas de consumidores, chegou a vez das redes de baixa tensão (BT) do Brasil também passar a contar com acesso de dispositivos de geração de energia elétrica. Lá fora já é prática comum em muitos países.

Redes de Distribuição há muito tempo são concebidas como redes passivas (para fornecimento de energia) e radiais (de fluxo unidirecional) e agora passaram a se tornar ativas (recebem injeção de energia) com possibilidade de fluxo bidirecional, o que exigiu uma série de adaptações para possibilitar operação segura sem prejuízo da qualidade. O livre acesso às redes de distribuição para pequenos (em média tensão) e micros (em baixa tensão) aproveitamentos energéticos de toda gama de fontes (eólica, solar, célula a combustível, etc) em larga escala é uma tendência irreversível e exigirá as adaptações necessárias para convivência  harmoniosa.

É a evolução tecnológica aliada à conservação, eficiência e sustentabilidade que está colocando no mercado diversos sistemas de geração com a simplicidade capaz de serem adotados em pequenos estabelecimentos industriais, comerciais, rurais, condomínios e até residências, como se fossem simples eletrodomésticos.

Já largamente utilizados em situações especiais, como por exemplos em locais isolados (off grid), onde as redes não alcançam, é chegada a hora de serem adotados em paralelo com as redes existentes (on grid).

As células a combustível há muito tempo foram candidatas a assumir o papel de produzir eletricidade dentro dos domicílios e fornecer excedentes para as redes, mas tal prognóstico acabou não se concretizando por diversos motivos, principalmente econômicos. Contudo, seu potencial ainda é lembrado freqüentemente.

 Hoje, entretanto, já se encontram no mercado não uma, mas algumas outras opções de dispositivos com vocação de suprir as demandas individuais de pequenos consumidores e até exportar baixos volumes excedentes para as redes. Geradores acionados pela combustão de gás proveniente de biodigestores em propriedades rurais já é uma realidade. Começam a aparecer no mercado brasileiro fornecedores de painéis fotovoltaicos e mini-turbinas eólicas conjugados ou não a dispositivo de armazenamento (baterias) compondo com Inversor Grid Tie (1) para operação paralela com as redes de BT.

Efeito Fotovoltaico x Efeito Fotoelétrico
Apesar de estarem baseados em princípios físicos equivalentes, não podem ser considerados iguais. O Efeito Fotovoltaico foi primeiramente observado por Alexandre-Edmund Becquerel em 1839 e é a tensão que aparece entre as extremidades de semicondutores quando expostos à luz. O Efeito Fotoelétrico observado por Heinrich Rudolf Hertz em 1887 é a emissão de elétrons por material metálico quando exposto a uma radiação eletromagnética (luz, por exemplo) a uma freqüência suficientemente alta (depende do material). O Efeito Fotoelétrico foi explicado por Albert Einstein em artigo, que demonstrou que os elétrons são arrancados da superfície destes materiais por partículas de energia, mais tarde denominados de fótons. Este era um dos quatro artigos publicados (*) simultaneamente por Einstein em 1905, dentre os quais estava o da teoria da relatividade especial (outro explicava o movimento browniano e mais um que deduzia a equação E=Mc2). Posteriormente, em 1916, concluiu a teoria da relatividade geral. O curioso é que apesar da importância da teoria da relatividade, Einstein recebeu o seu prêmio Nobel em 1921 pelo trabalho do efeito fotoelétrico e não pela teoria que o tornou famoso.
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* Adicionalmente aos quatro artigos e na mesma ocasião, foi publicada na mesma revista (Annalen Physik) a tese de doutorado de Einstein, sobre o tamanho das moléculas. No ano seguinte (1906) a Universidade de Zurique conferiu a ele o título de doutor.

Devido a pouca eficiência das baterias a intenção é não dotar estes sistemas de armazenamento e, portanto, a idéia é compensar a energia exportada em períodos de baixo consumo com a importação em períodos onde o inverso ocorre, como se a rede fosse um dispositivo de armazenamento virtual. A contabilização entre exportação e consumo excedente só depende de medidores apropriados (quatro quadrantes) e aplicação dos encargos de uso da rede.

No caso de iluminação pública há projetos que combinam energia eólica com solar (fotovoltaica) e baterias individuais para cada ponto, o que permite grande autonomia de armazenamento.

É bom lembrar também do advento dos carros elétricos e híbridos plug-in, que alem de poderem ser recarregados de energia elétrica através da conexão com uma tomada qualquer serão capazes de fornecer energia ou funcionar como “no-break”. Se a moda de carros elétricos pegar, o seu impacto nas redes de distribuição poderá ser relevante, dependendo do volume (quantidade de veículos) e desta sua característica de ora poder estar consumindo e ora poder estar injetando energia.

Como todo avanço, há ainda várias questões a serem esclarecidas e outras mais a serem formuladas, alem de regulamentações e requisitos técnicos a serem detalhados, apesar do livre acesso já estar estabelecido nos Procedimentos de Distribuição da Aneel (2).

Devido ao pequeno porte deste tipo de instalação, os procedimentos dirigidos a este segmento podem, entretanto, ser simplificados nos aspectos legais, comerciais e técnicos e há espaço até para padronização a nível nacional.

Projetos, fabricantes e fornecedores já existem e a aceitação pelo mercado se dará na medida das perspectivas de retorno, que dependem muito das regras de acesso.
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1-O Inversor Grid-Tie é um dispositivo estático que alem de converter corrente contínua em alternada tem a capacidade de sincronizar a freqüência de geração com a tensão da rede e ainda se desconecta automaticamente em situações de interrupções de energia (do lado da concessionária), evitando ilhamento, o que é importante para a segurança. Atua ainda na limitação da tensão de saída e manutenção de fator de potência fixo próximo a unidade.
2-Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST Módulo 3 – Acesso ao Sistema de Distribuição.