Rede inteligente
A arquitetura visível
das redes elétricas de distribuição pouco evoluiu desde a sua concepção
inicial. Subestações, postes, cabos, transformadores, chaves e demais
equipamentos que operam para atender demandas de elevada potência tiveram
melhorias tecnológicas construtivas consideráveis, mas suas funcionalidades são
ainda as mesmas. No entanto, no que se refere aos sistemas e equipamentos de
medição, supervisão, proteção e controle os avanços são muito mais evidentes e
atrelados aos significativos desenvolvimentos havidos na eletrônica,
telecomunicações e informática.
A primeira geração de medidores, relés de proteção
e equipamentos de controle automático de equipamentos era eletromecânica e
ainda hoje operam dispositivos desta natureza. A supervisão destes equipamentos
é manual, ou seja, exigem operador local para executar ajustes e fazer leitura.
Na segunda geração apareceram relés e controles eletrônicos que permitem
supervisão remota, quando associada a dispositivos de telecomunicação. O
problema passou a ser a confiabilidade dos meios de comunicação então disponíveis,
como carrier, rádio, linha discada e micro-ondas. Hoje os equipamentos são
microprocessados, com um grande universo de funcionalidades e o cardápio de
meios de telecomunicação é tão diversificado quanto confiável. Fibras óticas,
celulares, satélites e mais recentemente banda larga via rede elétrica - BPL
(Broadband Powerline), oferecem
opções variadas. Aliados as ferramentas de informática, internet e intranet
estas tecnologias juntas abrem caminhos antes nunca imaginados para soluções a
diversos problemas crônicos (perdas, qualidade do serviço, confiabilidade, etc)
e outros mais atuais (geração distribuída, qualidade do produto, eficiência,
etc).
A era digital propiciou também o cadastramento das redes em sistemas georeferenciados que fornecem a base de apoio a toda uma gama de atividades que dependem de dados para desenvolvimento de ferramentas computacionais mais eficientes de operação, planejamento, controle, manutenção, etc. A substituição dos atuais medidores eletromecânicos por medidores eletrônicos é a etapa seguinte (a Aneel já iniciou consulta pública), pois só assim será possível disponibilizar informações para gerenciamento em tempo real e possibilitar atuações remotas individualizadas por consumidor (gerenciamento de carga, leitura, corte, religamento, etc). Dados cadastrais dos ativos e informações detalhadas da carga são subsídios básicos para todos os estudos elétricos, comerciais e tarifários, portanto os ganhos destes bancos de dados serão significativos, com potencial para propiciar grandes impactos no setor.
Mais
recentemente as redes de distribuição passaram a servir também como pontos de
conexão de produção de pequenas centrais geradoras (hidrelétricas, térmicas,
eólicas, etc). Concebidas inicialmente como redes radiais (de fluxo
unidirecional) apenas para fornecimento (passivas) passaram a receber injeção
de energia (ativas) o que exigiu uma série de adaptações para possibilitar
operação segura sem prejuízo da qualidade. Porem, ainda hoje não há
padronização, seja a nível nacional ou internacional das exigências (requisitos
técnicos) para acesso de geração. O livre acesso às redes de distribuição para
pequenos (em média tensão) e micros (em baixa tensão) aproveitamentos
energéticos de toda gama de fontes (eólica, solar, célula a combustível, etc)
em larga escala é uma tendência irreversível e exigirá as adaptações
necessárias para convivência
harmoniosa.
Todas
estas transformações estão acontecendo em relativo curto espaço de tempo,
rápido demais para que possa ser acompanhada na mesma velocidade por sistemas
elétricos de potência que atendem milhões de consumidores e que portanto tem
dimensões e custos de grande magnitude. Esta falta de sincronia acaba por gerar
problemas de diversas naturezas para os agentes diretamente envolvidos.
A
aposta atual é que as chamadas Redes Inteligentes (Smart Grid), que é a
conjunção de instalações de rede elétrica com telecomunicação e informática,
capacitará os atuais agentes a gerenciar de forma muito mais eficiente muitos
destes problemas e outros que surgirão em função das tendências atuais e
aspirações futuras da sociedade.
A consolidação
de redes inteligentes será um processo longo e de alto custo, porem já está
acontecendo na medida das possibilidades de cada concessionária. Muitas
empresas automatizaram suas subestações e agora estão atuando com maior ênfase
nas redes de média tensão, principalmente na implantação de dispositivos de
manobra com telecomando para agilizar recomposição de áreas desligadas
acidentalmente e instalação de medição eletrônica em consumidores de baixa
tensão, principalmente onde há incidência de elevadas perdas comerciais (furtos
de energia).
Num futuro
próximo serão infinitos os desenvolvimentos atrelados ao conceito de Redes
Inteligentes, limitadas apenas ao avanço da infra-estrutura necessária que é de
custo elevado e portanto demandará certo tempo para que sejam direcionados
investimentos suficientes. Neste meio tempo serão consolidados projetos
pilotos, etapa importante e que precede a padronização.