A entrada da eletricidade
no cotidiano foi pelos sistemas de telegrafia e abriu um novo campo de trabalho
que por sua vez aumentou a curiosidade e o interesse de profissionais pelo ramo
da eletricidade. A busca por invenções com potencial de mudar a situação
financeira de quem detivesse a patente de algo novo e promissor provocou uma
corrida em pesquisas em várias frentes. A lâmpada elétrica (1) era uma delas e o seu
destino dependia de se vencer o desafio de desenvolver um produto durável.
Thomas Alva Edison
foi inventor e empresário norte americano, e desde menino demonstrou interesse
pelas ciências e capacidade empresarial. Em sua juventude trabalhou em
telegrafia e paralelamente desenvolvia inventos ou melhorava dispositivos
existentes. Sua primeira patente foi um marcador elétrico de votos (1868), que
não despertou interesse e foi um total fracasso comercial. Porem em 1869 Edison
inventou um telégrafo indicador de cotações de bolsa de valores e recebeu por
esta invenção quarenta mil dólares, o que lhe permitiu montar uma fábrica de
telégrafos impressores. Tinha então apenas 23 anos de idade.
A partir daí
não parou mais e trabalhou no desenvolvimento de muitos equipamentos. Em 1877
inventou o Fonógrafo (apesar desta afirmação também ser motivo de contestação
por outros inventores), porem apesar da publicidade e fama que este equipamento
lhe proporcionou não houve retorno comercial satisfatório. Dedicou-se então ao
desenvolvimento da lâmpada elétrica incandescente (com filamento), que já era
conhecida (Joseph Wilson Swan, físico e químico inglês patenteou a invenção em
1878) porem os modelos até então produzidos duravam por pouco tempo. Pesquisou
por mais de um ano infinitos materiais para servirem de filamento, e finalmente
em 1879 conseguiu que uma lâmpada com bulbo a vácuo e filamento de algodão
carbonizado permanecesse acesa por mais de 40 horas. Mas este material ainda
era insatisfatório e continuou pesquisando até descobrir o bambu, este sim
aprovado para produção em série. Edison já havia adiantado, mesmo antes de
concluir suas pesquisas com a lâmpada elétrica, que estava próximo o fim do
ciclo da iluminação a gás, o que provocou na época desvalorização das ações das
empresas que exploravam a concessão de iluminação pública das cidades.
Posteriormente a eletricidade se tornou um concorrente fatal para estas
empresas, que acabaram saindo do setor de iluminação.
O desenvolvimento da lâmpada incandescente foi um feito
grandioso por si só, porem imediatamente provocou o surgimento da indústria de
geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Para viabilizar a
disseminação do uso das lâmpadas, foram necessárias a implantação de usinas
geradoras e redes de distribuição, bem como todos os demais equipamentos
associados de instalações elétricas, tanto do lado das concessionárias como do
lado dos consumidores, e nasceu assim um novo setor industrial.
Estes primeiros
sistemas de geração e distribuição eram em corrente contínua, o que impunha
sérias restrições para expansão, impedindo transmissão a longas distâncias e
acarretava em demasiadas perdas de energia nos condutores. Edison contratou o
engenheiro, físico e inventor Nikola Tesla (ascendência sérvia, nascido no
império Austríaco, hoje Croácia) por indicação de seu sócio em seus negócios na
Europa (2). Tesla trabalhou para
Edison nos aperfeiçoamentos necessários de seus sistemas de corrente contínua e
segundo consta tentou convencer Edison a implantar sistemas polifásicos, em
corrente alternada, ao invés de continuar aperfeiçoando os sistemas existentes.
Edison preferiu seguir suas próprias idéias e Tesla acabou se demitindo por
entender que Edison o havia enganado ao não cumprir promessa de bônus de
cinqüenta mil dólares pelos sucessos aos desafios a que tinha sido submetido. Este
talvez tenha sido o maior equívoco cometido por Edison ao longo de sua vida. A
contrariedade de Edison acerca da corrente alternada acabou por se transformar
em um verdadeiro duelo com Tesla, fato que se tornou célebre.
Tesla, após a
demissão, de início passou por dificuldades, tendo que se submeter a realizar
trabalhos braçais para sobreviver, porem logo foi contratado pelo empresário e
engenheiro norte americano George Westinghouse, que decidiu apostar nas em suas
idéias inovadoras. Westinghouse comprou as patentes de Tesla sobre sistemas
polifásicos e construiu o primeiro aproveitamento comercial em corrente
alternada (3), o sistema de Niágara
Falls (1896).
Piada Americana
Sobre o alegado bônus prometido por Edison a Tesla de
cinqüenta mil dólares que motivou o rompimento definitivo entre ambos, Edison
se defendeu alegando que tudo não tinha passado de uma piada levada a sério por
Tesla. Dizia Edison que quando Tesla se tornasse americano passaria a apreciar
piadas americanas.
A briga entre Tesla e Edison ficou conhecida como a
“Batalha das Correntes” e Edison extrapolou sua teimosia em ações nada
edificantes, insistindo na argumentação dos riscos da corrente alternada.
Eletrocutou em público animais, incluindo um elefante e financiou a construção
da primeira cadeira elétrica para execução de presos condenados a morte em
corrente alternada. Tudo em vão, e os sistemas polifásicos persistem até hoje
sem sucessor a vista.
Duas grandes indústrias de tecnologia se originaram nesta
época, a “Westinghouse Electric Corporation”, fundada por George
Westinghouse em 1886 e a “General Electric Company (GE)” que surgiu em 1892 da fusão entre a
“Edison General Electric Company”, fundada por Thomas Edison com a “Thomson-Houston Electrical
Company”.
A partir de então, passou-se a contar com uma
infra-estrutura de produção, transmissão e distribuição de uma energia limpa,
eficiente e relativamente segura, que possibilitou de início a comercialização
de aparelhos utilitários com capacidade de transformar esta energia em
basicamente duas propriedades: luz e força. Era o princípio dos avanços
modernos nas mais variadas atividades (residenciais, comerciais, industriais,
etc), que transformaram radicalmente o cotidiano da sociedade.
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1-Humphry Davy, químico inglês observou na década de 1800 o efeito luminoso do arco voltaico. Posteriormente foram então desenvolvidas lâmpadas utilizando esta propriedade (consideradas precursoras das lâmpadas de descarga de mercúrio e sódio atuais) e começaram a aparecer a partir de 1850 na Inglaterra e posteriormente em outros países. Apresentava dificuldades econômicas e técnicas (necessitavam de fonte de energia potente, geravam muito calor e sua intensidade de iluminação era demasiadamente forte), porem mesmo assim foram usadas comercialmente até por volta de 1920 em iluminação pública e por mais tempo ainda em projetores de cinema. A primeira experiência de iluminação pública no Brasil foi com lâmpadas deste tipo, ainda no período imperial de D. Pedro II, em 1879.
1-Humphry Davy, químico inglês observou na década de 1800 o efeito luminoso do arco voltaico. Posteriormente foram então desenvolvidas lâmpadas utilizando esta propriedade (consideradas precursoras das lâmpadas de descarga de mercúrio e sódio atuais) e começaram a aparecer a partir de 1850 na Inglaterra e posteriormente em outros países. Apresentava dificuldades econômicas e técnicas (necessitavam de fonte de energia potente, geravam muito calor e sua intensidade de iluminação era demasiadamente forte), porem mesmo assim foram usadas comercialmente até por volta de 1920 em iluminação pública e por mais tempo ainda em projetores de cinema. A primeira experiência de iluminação pública no Brasil foi com lâmpadas deste tipo, ainda no período imperial de D. Pedro II, em 1879.
2-Entre 1882 e 1884, Tesla foi empregado da “Continental Edison Company” em Paris. A carta de Charles Batchelor, sócio de Edison recomendando Tesla, dizia que ele tinha grande consideração por dois homens, sendo Edison um deles. O outro era aquele jovem portador da carta.
3-O primeiro
sistema em corrente alternada em alta tensão trifásico foi construído em 1891,
entre a central hidrelétrica de Lauffen e Frankfurt, com extensão de 177 km,
para alimentar a Exposição
Internacional Eletrotécnica de Frankfurt.
Nikola Tesla, o visionário
O Grande Truque (The Prestige) é um filme fascinante e
coincidência ou não prestou uma singela homenagem a um grande personagem da
história da tecnologia no ano do sesquicentenário de seu nascimento (2006),
Nikola Tesla (1856-1943). No filme, que mistura suspense e ficção científica,
Tesla é um personagem da estória (interpretado por David Bowie), mas para quem
conhece ou tiver a curiosidade de conhecer a biografia deste extraordinário
protagonista da história da engenharia elétrica do final do século XIX e início
do XX entenderá a conveniência de sua inclusão no enredo, pois a imaginação
aliada às excentricidades de Tesla simplesmente não tinha limites e estavam
alem de seu tempo, características marcantes de figuras visionárias que
promovem verdadeiros saltos de desenvolvimento para a humanidade.
Com formação em engenharia elétrica, mecânica, matemática e
física, este gênio, cientista, intelectual e inventor revolucionou o
conhecimento da eletricidade e foi além, pois colocou em prática suas teorias com
invenções que hoje fazem parte do cotidiano. Foram tantas as suas criações que
algumas acabaram sendo expropriadas. No caso do rádio, por exemplo, a Suprema
Corte americana julgou em 1943 (meses após sua morte) que Tesla havia precedido
e patenteado a invenção, apesar de Guglielmo Marconi afirmar nunca ter lido
estas patentes. Tesla afirmava, entretanto, que Marconi utilizou várias
patentes de sua propriedade.
Esquecido por muito tempo, aos poucos seu valor e lugar de
destaque vem sendo mais e mais cultuados. Talvez a Internet tenha alguma
responsabilidade na corrente de divulgação atual deste personagem, porem ainda
há um longo caminho para que seu nome se equipare a fama e popularidade de
outras grandes figuras históricas já imortalizadas. Para reverter uma das
maiores distorções de reconhecimento de mérito de nossa época, documentários
filmes e livros sobre sua vida e trabalho vem sendo produzidos, porem na
Internet é onde mais se atualizam aspectos de sua biografia e detalhes de sua
obra. Exemplificando: a procura no Google pelo nome “Nikola Tesla” retorna
2.490.000 resultados, enquanto que para “Thomas Edison”, que possui fama
consolidada por centenas de invenções, como o Fonógrafo (1877) e
desenvolvimento da lâmpada elétrica incandescente (1879), 2.480.000 e
“Guglielmo Marconi”, 891.000.
Em 1956, ano do centenário de seu nascimento, o sistema MKS
de unidades passou a adotar “Tesla” (1T = 1Wb/m2) como a unidade de
densidade de fluxo magnético (indução magnética) em sua homenagem, o que
contribuiu para que seu nome ao menos no meio técnico não fosse uma total
incógnita.
Foram tantas suas contribuições que é até difícil destacar
a mais importante, porem as de maior evidência foram os desenvolvimentos do
campo eletromagnético giratório, do motor de indução e dos sistemas
polifásicos. Sua competição com Thomas Edison na “Batalha das Correntes” foi
célebre. Edison teimosamente defendia corrente contínua e Tesla que possuía
formação teórica sem comparação não tinha dúvidas de que a tecnologia de
corrente alternada se imporia por uma série de vantagens técnicas e por ser
mais econômica. Tesla que havia trabalhado para Edison e nesta ocasião não
conseguiu convencê-lo a investir em suas idéias inovadoras e revolucionárias,
se demitiu por julgar que Edison o havia enganado por descumprimento de
pagamento de bônus prometido. O palco final da disputa foi o projeto da geração
e transmissão da Usina de Niágara Falls, cuja concessão foi ganha por George
Westinghouse que havia anteriormente (após a demissão de Tesla da empresa de
Edison) comprado as patentes de Tesla de sistemas polifásicos. Este sistema
elétrico é considerado o primeiro aproveitamento comercial em corrente
alternada.
Apesar de conviver com pessoas influentes, como J.P.Morgan
e George Westinghouse, Tesla tinha poucos amigos e Mark Twain foi um deles.
Porem, devido a sua personalidade excêntrica, Tesla perdeu muita de sua
credibilidade, notadamente por suas ligações com ufologia, espionagem e
dispositivos de interesse militar que acabaram por misturar à sua biografia
muitos mitos. Esta outra face de sua vida explica, porem não justifica o seu
ostracismo.
Após sua morte, seus bens pessoais e arquivos foram
apropriados pelo estado norte americano e depois de analisados foram liberados
para a família que os repassou para o “Museu Tesla”, situado em Belgrado.
Especula-se que nesta ocasião estes documentos teriam sido copiados pelos
militares do então bloco comunista, devido ao seu conteúdo de interesse bélico.
Sistemas elétricos polifásicos (geradores, motores,
transmissão, etc), lâmpada fluorescente, radio, radar, raio x, robótica, etc,
fazem parte da coleção de tecnologias desenvolvidas ou criadas por Tesla.
Outras tantas em que ele se envolveu ainda hoje são consideradas futuristas
demais para nossa era.
Por tudo que fez, Nikola Tesla merece maior reconhecimento,
e seu legado justificam resgate histórico, com maior destaque a sua obra,
separando os fatos dos mitos.
Linha de Tempo:
1856-De ascendência Sérvia, nasceu em 09 de Julho na vila
de Smiljam (Austria-Hungria na época), hoje Croácia;
1875-Estudou na Escola Politécnica de Graz (Áustria) e na
Universidade de Praga. Sua formação abrange: engenharia elétrica, mecânica,
física e matemática;
1881-Mudou-se para Budapeste (Hungria) para trabalhar com
telegrafia;
1882-Mudou-se para Paris para trabalhar na "Continental Edison
Company";
1884-Mudou-se para Nova York para trabalhar com Thomas
Edison;
1886-Demite-se da empresa por entender que Edison não
cumpriu promessa de pagamento do bônus por sucesso em serviços prestados (US$
50 mil). Edison se defendeu alegando que havia sido uma brincadeira a oferta do
prêmio. Para sobreviver, Tesla chega a realizar serviço braçal nesta época;
1887-Vende sua patente sobre corrente alternada para George
Westinghouse, que por sua vez trabalhou para adotar esta tecnologia como padrão
na distribuição de energia elétrica, contrariando os interesses comerciais de
Edison que até então usava corrente contínua em sistemas em operação de suas
empresas;
1891-Inventou a Bobina de Tesla, que serviu de base para
diversos meios de comunicação sem fio, como o rádio e a televisão. A partir
desta data, Tesla tornou-se cidadão americano e viajou pelos Estados Unidos e
Europa divulgando seus trabalhos e desenvolveu uma série de outros inventos;
1893-Tesla e Westighouse fornecem energia e iluminação em
corrente alternada para a Exposição de Chicago comemorativa aos 400 anos da
chegada de Cristóvão Colombo no novo continente;
1896-Entra em operação Niagara Falls, transmitindo energia
até Buffalo, distante 33 km da Usina. Os geradores foram construídos pela
Westinghouse e a linha de transmissão pela GE;
1898-Patenteou um controle remoto. Tesla fez uma
demonstração no Madison Square Garden de um pequeno modelo náutico com
movimentos comandados por ele usando um controle remoto que operava por ondas
de radio transmitidas por antena;
1899-Tesla monta um laboratório em Colorado Springs onde
promove experiências de transmissão de energia sem fio pelo ar e pela terra.
Posteriormente, J.P.Morgan financia um novo laboratório para Tesla em Long
Island chamado Wardenclyffe para pesquisa com telecomunicação,
porem Tesla redirecionou suas pesquisas para transmissão de
energia sem fio pelo ar, o que posteriormente motivou o rompimento com seu
financiador e conseqüentemente com a interrupção de aporte dos recursos
necessários para a finalização do projeto;
1908-Tesla teria testado o “Raio da Morte” a partir de seu
laboratório de Wardenclyffe, que usava a mesma tecnologia de telecomunicações e
transmissão de energia. Até hoje é um mistério o quanto Tesla tinha domínio
desta tecnologia, que se tornou obsessão pelo resto de sua vida;
1943-Morreu em Nova York aos 86 anos no dia sete de
Janeiro, falido e esquecido. Tesla registrou aproximadamente 300 patentes.
Tunguska
Em
30/06/1908 uma grande área da floresta Siberiana (região de Tunguska) foi
devastada por uma imensa explosão. Até hoje não há consenso sobre a fonte que
ocasionou esta destruição e várias teorias tentam explicar. A mais aceita é de
que um meteorito ou pedaço de cometa penetrou na atmosfera e causou o estrago,
porem carece de comprovação, pois não há cratera e nem fragmentos que atestem
esta hipótese. Entre as teorias
alternativas há uma curiosa (Oliver Nichelson),
que atribui o ocorrido a uma experiência de Nikola Tesla durante a expedição de
Robert Peary ao Pólo Norte. Na mesma data e horário, Tesla teria realizado uma
experiência com um dispositivo chamado de “Raio da Morte” naquela direção, na
esperança de que fosse visto pelo explorador, mas teria errado o alvo (passado
por cima).
Cadeira
Elétrica
Na
“Batalha das Correntes” Thomas Edison não media esforços para desmoralizar a
corrente alternada (CA) e promoveu campanhas difamatórias no sentido de
enfatizar os riscos fatais desta tecnologia. Vários animais foram mortos
eletrocutados com CA, incluindo um elefante, para provar sua tese. Edison
financiou então a construção da primeira Cadeira Elétrica que serviria para a
execução de um criminoso condenado a pena de morte, com a intenção de
demonstrar o quanto mais perigosa era a CA. Quando a cadeira foi finalmente
usada em 1890, o procedimento falhou na primeira tentativa e teve que ser
repetido, expondo o condenado a uma tortura muito maior que a pena original.
