PLC/BPL - Internet pela rede elétrica
A tecnologia de transmissão de sinais (dados e voz) utilizando rede elétrica
energizada teve início nas décadas de 1920/30, era analógica e conhecida como “Carrier”,
hoje já obsoleta e com pouco uso. Servia como principal meio de comunicação
entre subestações transformadoras e os centros de operação das empresas e os
sinais trafegavam pelas linhas de transmissão de alta tensão. Por se tratar de
sistema com confiabilidade abaixo da desejada foi sendo gradualmente substituída
por diversos avanços tecnológicos, como microondas, fibra ótica, linha discada
e celular.
Atualmente está
em evidência a implantação de sistemas de transmissão de sinais voltada
principalmente para acesso a Internet utilizando como via de tráfego os
sistemas elétricos de média e baixa tensão, em função das vantagens econômicas
proporcionada pela capilaridade das redes, o que dispensa todo o investimento
de acesso às instalações prediais dos potenciais consumidores deste produto.
São os chamados
sistemas digitais Power Line Communications (PLC) e Broadband over Power Line (BPL), este último em
banda-larga e de altíssima velocidade, que propiciam aos usuários acesso à
Internet através de modem que pode ser ligado a qualquer tomada de baixa
tensão.
Algumas
concessionárias já se interessaram por este novo filão de mercado há algum
tempo e vem testando estas tecnologias e algumas já possuem inclusive programas
pilotos em funcionamento.
Sem
regulamentação sobre o assunto, as agências reguladoras brasileiras (Aneel e
Anatel) realizaram audiências e consultas públicas para subsidiar suas decisões
acerca dos requisitos a serem obedecidos na implantação e operação destes
sistemas de telecomunicações em cima de sistemas de distribuição de energia.
A Anatel
estabeleceu a Resolução 527/2009 que “Aprova o
Regulamento sobre Condições de Uso de Radiofreqüências por Sistemas de Banda
Larga por meio de Redes de Energia Elétrica” e a Aneel publicou a Nota
Técnica 009/2009 “Proposta de regulamentação da utilização
das instalações de distribuição de energia elétrica como meio de transporte
para a comunicação de sinais” e realizou a Audiência Pública 010/2009 para discutir a minuta de
resolução de sua competência que “Regulamenta
a utilização das instalações de distribuição de energia elétrica como meio de
transporte para a comunicação de sinais”.
Portanto, tudo
parece correr de acordo com as ações necessárias e suficientes para a
implantação de uma nova tecnologia com favoráveis perspectivas de sucesso, porem
ainda não é possível afirmar que haja consenso neste encaminhamento e nem que
os relacionamentos entre as diversas partes e agentes envolvidas sejam
pacíficos.
Ocorre que por
se estar aplicando uma tecnologia de ponta (BPL) em cima de sistemas não projetados
para servir a este fim (rede elétrica) há “efeitos colaterais” indesejados e
que nem sempre encontram solução técnica de contorno adequada, o que provoca
reação por parte daqueles que prevêem prejuízos para seus sistemas já
implantados.
Basicamente são
problemas relacionados à compatibilidade eletromagnética, devido aos sinais
serem de alta freqüência e os fios não possuírem blindagem (1,2) e de projeto
da rede (3), quais sejam:
1-interferência
externa que o BPL pode vir a provocar, principalmente em outros sistemas de
comunicação que operam em freqüências próximas das faixas de freqüência
liberadas;
2-sensibilidade
do BPL frente a ruídos produzidos por equipamentos (eletrodomésticos e
eletrônicos) de uso dos consumidores;
3-atenuação do
sinal por diversos fatores construtivos da rede elétrica.
Na Resolução da
Anatel foram estabelecidos limites de intensidade de campo para radiações
indesejadas, com a finalidade de evitar interferências que afetem dispositivos
externos, como as recepções de radio, televisão, telefones sem fio, etc, porem
esta iniciativa ainda não foi avalizada como medida eficaz pelas entidades de
classes coorporativas dos setores potencialmente sujeitos a serem afetados.
Adicionalmente foram definidas também faixas de freqüência e zonas geográficas
de exclusão da tecnologia.
A situação de
sensibilidade da tecnologia BPL frente aos ruídos provocados por aparelhos de
uso comum, como: motores com escovas (furadeira, aspirador de pó, barbeador,
secador de cabelo, etc), fontes chaveadas, transitórios devido à operação de
capacitores, dimmers, etc dependerá das soluções de contorno dos fabricantes. É
certo porem, que o modem não poderá ser ligado a equipamentos bloqueadores de
alta freqüência, como transformadores, filtros de linha e estabilizadores de
tensão.
Para resolver o
problema de atenuação, os sistemas deverão incorporar dispositivos repetidores
de sinal, quando necessário.
A discussão
acerca da viabilidade de tornar esta tecnologia disseminada em larga escala é
global, ou seja, outros países também estão compartilhando os mesmos dilemas e
alguns estão assumindo por conta própria os riscos do pioneirismo. No Brasil a
Anatel vem assumindo a regulamentação acerca de requisitos técnicos visando
estabelecer regras voltadas à padronização, faixas de freqüências liberadas e
limites a serem cumpridos e a Aneel estabelecendo as condições de
compartilhamento dos ativos sem prejuízo a qualidade do serviço, segurança e
proteção das redes. Parte das receitas da exploração deste novo serviço deverá
ser destinado à modicidade tarifária.
Para as
concessionárias de distribuição de energia, alem de exploração de um novo
negócio que lhe proporcionará novas receitas, esta tecnologia tem um atrativo
adicional, pois coloca a disposição um meio físico de custo favorável para a
disseminação de Rede Inteligente (Smat Grid), podendo integrar nos sistemas de
gestão, operação, manutenção, etc, grande parte dos equipamentos de manobra,
controle e proteção com recursos de telecomando, abrangendo até gestão individual
de consumidor (corte, religamento, leitura, etc) atuando remotamente nos
medidores de consumo que deverão proximamente evoluir para mecanismos
eletrônicos (Smart Meter).
Se comprovada a
viabilidade da disseminação da tecnologia e o mercado responder favoravelmente
na aquisição de serviços de BPL, terá sido um passo relevante na evolução tanto
dos sistemas de telecomunicações como nos de distribuição de energia elétrica.