O primeiro registro de iluminação elétrica no Paraná foi ainda na época do Império, no ano de 1886, com a instalação de uma lâmpada no “Passeio Público” de Curitiba, acesa no dia 19 de Dezembro, data comemorativa dos 33 anos da emancipação da província. Neste mesmo ano, "o Comendador Francisco Fasce Fontana (empresário proprietário de engenhos de erva-mate) saneou, construiu e doou” ao povo de Curitiba o Passeio Público (parque mais antigo da cidade). Consta que esta demonstração pública atraiu três mil pessoas ao local. Fontana, que era o administrador do parque, conta em carta ao governo:
“Graças ao cavalheirismo e desinteresse do Sr. Schewing, foi colocado um foco elétrico no Passeio, produzindo excelente resultado. Importante foi o auxílio do engenheiro J. Lazzarini que, com a maior vontade e sumo desinteresse, tomou a seu cargo a colocação dos fios elétricos”.
“Graças ao cavalheirismo e desinteresse do Sr. Schewing, foi colocado um foco elétrico no Passeio, produzindo excelente resultado. Importante foi o auxílio do engenheiro J. Lazzarini que, com a maior vontade e sumo desinteresse, tomou a seu cargo a colocação dos fios elétricos”.
Visita de D.Pedro II ao Paraná
Por ocasião da passagem de D.Pedro II por Curitiba na visita de 1880 ao Paraná aproveitou-se da ocasião para convidá-lo para a inauguração da Santa Casa de Misericórdia. Encontra-se anotado em seu diário do dia 22/05/1880 a seguinte observação sobre a instalação física do referido hospital: “Tem pára-raios, e um deles foi fulminado durante a trovoada de Paranaguá”. Referia-se o Imperador ao temporal ocorrido dias antes (19/05) quando ele ainda se encontrava em Paranaguá, que também mereceu lembrança em suas anotações diárias: “Trovoada com grande chuva ao chegar a matriz. Não me molhei muito”.
Por ocasião da passagem de D.Pedro II por Curitiba na visita de 1880 ao Paraná aproveitou-se da ocasião para convidá-lo para a inauguração da Santa Casa de Misericórdia. Encontra-se anotado em seu diário do dia 22/05/1880 a seguinte observação sobre a instalação física do referido hospital: “Tem pára-raios, e um deles foi fulminado durante a trovoada de Paranaguá”. Referia-se o Imperador ao temporal ocorrido dias antes (19/05) quando ele ainda se encontrava em Paranaguá, que também mereceu lembrança em suas anotações diárias: “Trovoada com grande chuva ao chegar a matriz. Não me molhei muito”.
Foi somente no
início da república, entretanto, que se tomou a primeira medida para o início
efetivo da entrada da energia elétrica no cotidiano do estado. Antes disso,
funcionaram precários serviços de iluminação com lampiões a óleo e querosene.
Em 09/09/1890 foi firmado contrato entre o governo municipal de Curitiba e a
Cia Água e Luz do Estado de São Paulo para implantação de iluminação pública na
capital. A iluminação deveria funcionar nas noites de inverno das 18:00h as
04:30h e no verão das 19:00h as 04:00h, inclusive em “noites de luar”. A
concessão era por 20 anos.
Em 12/10/1892
entrou em operação o empreendimento que contou com uma usina térmica a vapor
construída pelo engenheiro Leopoldo Starck, com duas máquinas fabricadas na
Hungria e que funcionavam com queima de lenha e potência de 50HP, instalada
próximo à estação ferroviária, atrás do “Congresso Estadual” (hoje Câmara de
Vereadores de Curitiba).
Em 18/05/1898,
a concessão da capital foi adquirida pela empresa “José Hauer & Filhos” e
em 1901 foi construída uma usina térmica na Avenida Capanema (antigo nome da
Avenida Afonso Camargo), onde hoje se localiza a rodo-ferroviária.
Paranaguá foi a segunda cidade do estado a receber
eletricidade, em 1902, por iniciativa da Família Blitzkow. Ponta Grossa foi a
seguinte, em 1905, onde passou a operar uma usina termo-elétrica a vapor
(lenha), construída pela empresa Guimarães & Ericksen, em corrente contínua
(230V). União da Vitória, veio a seguir.
Em 31/10/1910 a concessão de Curitiba foi novamente
negociada, agora com a empresa anglo-francesa The South Brazilian Railways
Company Limited e neste mesmo ano entrou em operação a Usina Serra da Prata
(6), perto de Paranaguá. Em 1912 a
South passou também a fornecer energia para os novos bondes elétricos de
Curitiba que também eram de sua propriedade. As primeiras unidades foram importadas
da Bélgica e começaram a operar comercialmente no início de 1913, tendo se
encerrado este ciclo de transporte em 1952.
Nas décadas de 1910 e 1920 várias outras cidades
passaram a produzir e consumir energia elétrica. A geração em geral era feita
através de pequenas térmicas a vapor (locomóvel), normalmente com queima de
lenha, mas várias hidroelétricas também foram construídas e depois vieram as
usinas a combustível fóssil (motor a óleo Diesel). Como operavam com pequena
potência, algumas das grandes indústrias que começaram a se instalar no estado
a partir da década de 1920 (papel, alimentos, madeira, etc) passaram a produzir
sua própria energia, também se utilizando das mesmas fontes (termo e
hidroelétricas e diesel).
O serviço de eletricidade de uma forma geral nos anos
iniciais era de péssima qualidade, o que gerava constantes reclamações e
protestos da população. Curitiba não fugia a regra e os concessionários Hauer e
South se desgastaram rapidamente junto à opinião pública. Houve então interferência
do governo estadual, e um novo contrato de concessão para a capital foi
assinado em 1928, agora entre o governo do estado e a empresa brasileira do
grupo americano AMFORP, que criou então a Cia Força e Luz do Paraná (CFLP) e
passou a deter também a propriedade dos bondes elétricos. Pouco depois, em 1931, entrou em operação a
Usina Hidrelétrica de Chaminé, próximo a Curitiba, que permitiu a desativação
da termelétrica de Capanema (de grande porte relativamente à demanda de então)
e melhorou as condições de fornecimento à capital.
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6-A usina Serra da Prata (desativada na década de 1970) é citada freqüentemente como sendo a primeira hidrelétrica do Paraná, tendo iniciado sua operação em 1910 e estava localizada nas proximidades de Paranaguá. A usina de Pitangui (ainda ativa), em Ponta Grossa começou a operar em 1911 e é citada como sendo a segunda hidrelétrica do estado. Entretanto, em "Os Campos Gerais e sua Princesa" o autor esclarece que antes destas duas, a partir de 1906 teve início a construção da Usina Rio Verde, perto de Ponta Grossa e manteve-se em operação até a entrada em funcionamento da Usina Pitangui. Foi então desativada por supostos problemas construtivos. Esta seria então a primeira usina hidrelétrica do Paraná.
No tempo da CFLP
Muito se discute hoje em dia sobre os preços das tarifas
de energia elétrica no país, especialmente nas ocasiões de revisões e reajustes
tarifários. O sentimento nacional é de que as tarifas são altas, porem nem
sempre há consenso sobre o vilão da história, apesar de que a maioria concorda
que a carga tributária é excessiva, mas há quem defenda que a “tarifa limpa”
(antes da incidência de impostos e encargos) já é demasiadamente elevada. Por
se tratar de um monopólio natural há certa dificuldade em se encontrar
situações comparáveis.
Por 45 anos a concessão de energia elétrica de Curitiba
foi da Companhia Força e Luz do Paraná (CFLP), empresa que fazia parte de um
grande grupo privado dos EUA com forte presença no setor de energia e
transporte urbano (bondes) no Brasil. Seu contrato de concessão da capital
paranaense foi assinado em 1928 e somente em 1973 foi encampada pela Copel. As
imagens seguintes se referem à fatura de energia elétrica de Abril de 1963 de
uma residência. É bom lembrar que nesta época a concessionária produzia,
transmitia e distribuía energia elétrica em sistema praticamente isolado. Logo,
a validade de uma comparação pura e simples entre épocas tão distantes e
realidades muito diferentes não é ideal, porem dá uma idéia aproximada do peso
no bolso do consumidor que a energia elétrica impunha naquele tempo.
Fatura
mensal (Abril de 1963) – Código de Serviço (CS) = 1 - Luz Residencial
Canhoto (recibo de pagamento)
Importe
(tarifas + sobretaxas) = (1) Cr$
510,5 (83,4%)
Previdência
= Cr$ 40,8 (6,7%)
Imposto
= Cr$ 60,7 (9,9%)
Total =
Cr$ 612,0 (2)
A cobrança podia ser efetuada a domicílio, como a deste caso.
A cobrança podia ser efetuada a domicílio, como a deste caso.
Verso
da fatura - Tarifas
Em 1963
o salário mínimo era de Cr$ 21.000,00 (3),
o que equivale ao dobro do de 2011 e a inflação estava na casa dos 5% ao mês,
ou 80% ao ano e fora de controle, mas aparentemente a energia elétrica pesava
menos no bolso. Apesar da “tarifa limpa” ter aumentado neste período, é
flagrante que o maior peso no encarecimento da energia elétrica se deve a fome
do estado em arrecadação.
_____
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1-Cruzeiro (com centavos – 1000 réis = Cr$ 1,00) – vigorou de 01/11/1942 a 01/12/1964, quando se deixou de usar os centavos. Em 1967 passou a vigorar o Cruzeiro Novo (Cr$ 1000 = NCr$ 1,00).
2-Valor atualizado monetariamente pelo IGP-DI (04/1963 a 06/2011) = R$ 26,04. Pelo INCC (Índice Nacional do Custo da Construção) = R$ 26,99. Custo por kWh = R$26,99/90kWh = R$ 0,30.
3-Valor atualizado pelo IGP-DI (01/1963 a 06/2011) = R$
1.086,25. Em 1963 o salário mínimo ainda não era unificado e havia 38 valores
diferentes. Cr$ 21.000,00 era o maior dentre estes.
“Revisão Tarifária” de 1931
Após a entrada em operação da Usina Chaminé (inaugurada em 15/03/1931),
hidrelétrica situada em São José dos Pinhais e construída pela CFLP, a empresa
repassou para as tarifas o que estava contemplado em contrato com o estado.
Isto combinado com outros aspectos econômicos da época acarretou em substancial
aumento mensal nas contas de energia elétrica dos consumidores. O resultado foi
o desencadeamento de reclamações e protestos em praças públicas por parte dos
consumidores em Maio. Houve quebra-quebra nas instalações da CFLP e nos bondes
elétricos (que também eram de propriedade da mesma empresa). Isto tudo, durante
o governo provisório de Getúlio Vargas cujo interventor no Paraná era o General
Mario Tourinho. A saída foi suspender o aumento e buscar uma solução, negociada
entre o governo e a empresa. Ficou acordado que o aumento seria escalonado e se
daria de forma gradual ao longo do tempo.
O Serviço de Energia Elétrica do estado foi criado em
1947 e no ano seguinte foi transformado no Departamento de Águas e Energia
Elétrica (DAEE). Era um órgão com atribuição de cuidar do serviço a nível
estadual e desenvolver planos para o setor. Acabou encampando diversos serviços
municipais e instalou geradores térmicos para atendimento de várias cidades. É
fácil imaginar o caos que era esta situação, com dificuldades logísticas
imensas para suprir as usinas de combustível. Estradas quando existiam eram de
chão, a travessia de rios com balsas e todos os serviços comerciais
(faturamento, medição, etc), de operação e manutenção eram locais, pois os
sistemas eram totalmente isolados. Ainda assim, o consumo era crescente e
desordenado e a produção não conseguia acompanhar a demanda.
Durante o mandato do Presidente Eurico Gaspar Dutra
(1946/1951) foi elaborado o Plano Salte (das primeiras letras
de saúde, alimentos, transporte e energia) e daí surgiu o Plano Nacional de
Eletrificação, com diretrizes para o setor, tais como:
-Sistema:
Divisão do país em regiões geográficas auto-suficientes, com centralização da
produção e conexões inter-regiões visando futura rede nacional de suprimento;
-Eletrificação
ferroviária: Direcionamento das conexões junto às linhas ferroviárias visando
eletrificação do transporte;
-Fontes:
Prioridade para os aproveitamentos hidroelétricos;
-Atuação do
Estado: centralizar o planejamento e fiscalização.
Partindo destas
diretrizes, em 1948 foi elaborado no Paraná pelo DAEE o Plano Hidroelétrico Paranaense “Moyses Lupion”, estudo
pioneiro de planejamento ao nível de produção de energia elétrica para fins de
consumo. É interessante observar o tópico referente a freqüência dos geradores.
O governo federal havia decidido padronizar o Brasil em 50Hz, através do
Decreto Lei 852/1938:
Art. 23:
A energia elétrica, obtida por meio da transformação da energia hidráulica ou
térmica será produzida, para ser fornecida no território brasileiro, sob forma
de corrente alternativa trifásica com a freqüência de cinqüenta
ciclos.
§ 1º As disposições deste artigo
incidem desde já sobre as ampliações nas instalações existentes de produção das
empresas, individuais ou coletivas, que forneçam energia para serviços públicos, ou de utilidade pública ou façam sob
qualquer forma o comércio de energia.
§ 2º As disposições deste artigo incidem desde já sobre as ampliações
das instalações de transmissão, transformação e distribuição para localidades
ou zonas de uma mesma localidade ainda não servidas por energia elétrica.
§ 3º Dentro do prazo improrrogável de oito
(8) anos e de acordo com o
Regulamento que foi baixado, as empresas individuais ou coletivas que, sob
forma diferente, forneçam energia elétrica para serviços públicos, de utilidade
pública ou façam o comércio de energia, deverão ter todas as suas instalações
funcionando de acordo com o estipulado neste artigo.
§ 4º O disposto neste artigo só
admite exceções nos casos de usinas para uso exclusivo do autorizado ou
concessionário e para indústrias especiais.
Posteriormente, o decreto 4295/1942 suspendeu o prazo e
foi reticente quanto à padronização da freqüência:
O prazo de que trata o art. 23, §
3º, do decreto-lei nº 852, de 11 de novembro de 1938, fica prorrogado por um período que
será oportunamente fixado, e passa a ser permitido o emprego, em
novas instalações e nas ampliações ou modificações das existentes, das
correntes alternadas trifásicas de 50 e de 60 ciclos por segundo, distribuídas
por zonas a serem delimitadas pelo C.N.A.E.E.
Em 1949, apenas duas usinas hidroelétricas paranaenses
funcionavam em 60Hz (Apucaraninha, que atendia Londrina e Chaminé, Curitiba), o
restante eram todas em 50Hz. Neste cenário apostou-se que a freqüência de 50Hz
seria padronizada no Brasil, e o Plano manteve esta aposta em seus projetos, o
que mais tarde não se verificou.
Em 1951, o Governador Bento Munhoz da Rocha Neto em
início de mandato encaminhou mensagem a Assembléia Legislativa onde se refere
particularmente ao crescimento da região norte do estado da seguinte forma:
“É oportuno salientar aqui, as exigências sempre crescentes e sem bases
de previsão do consumo de energia na região norte do Estado. Como exemplo desta
afirmativa, poderíamos mencionar o caso de Apucarana, onde iniciou o DAEE, há
dois anos, com 150kVA e hoje tem 3.000kVA instalados, com 11 conjuntos
diesel-elétricos e, no entanto, o fornecimento de energia que também atinge a
cidade de Mandaguari, torna-se deficiente dia a dia pelo volume de novas
ligações.”
Na mesma mensagem critica veementemente o Plano:
“Pelo exposto se verifica que efetivamente, não havia no Estado um
plano racional de obras. O que apresentou o Governo anterior como sendo
planificação de obras, era apenas um “esboço” das necessidades do Paraná que
todos nós conhecemos. Um programa que envolvia muito de aspiração, mas quase
nada de rumos consistentes para assegurar o êxito dos empreendimentos. Não
havia positivamente, uma planificação de obras, onde se observasse o cuidado do
critério de sua elaboração, apresentando dados seguros e exatos sobre as reais
possibilidades econômicas e finaceiras para a sua execução, dentro de preceitos
técnicos, mostrando o tempo de sua consumação, o custo aproximado das obras e
as despesas anuais a dispender com cada uma delas, distribuindo-se
racionalmente, por exercício, em função do próprio plano. O princípio da
“realização do mais necessário entre tudo que é necessário”, aplica-se a todos
os serviços públicos e, portanto, a todas as obras públicas, mas o objetivo só
será alcançado com base num plano racional e consistente”
Nesta diretriz o novo governo tomou novos rumos. Em 1953
instituiu uma Taxa e um Fundo de Eletrificação para arrecadação de recursos e
em 1954 criou uma empresa estatal de economia mista para atuar no setor (como
já haviam feito outros estados), a Companhia Paranaense de Energia Elétrica –
COPEL (a partir de 1979, Companhia Paranaense de
Energia), destinada a:
“Planejar, construir e explorar sistemas de produção, transmissão,
transformação, distribuição e comércio de energia elétrica e serviços
correlatos, por si ou por sociedades que constituir ou de que vier a
participar.”
Começou atuando na região noroeste do estado, mais
especificamente em Maringá, cidade que ainda não havia despertado o interesse
de nenhuma outra concessionária para a exploração do serviço.
Temístocles Linhares
(1905-1993)
Em rara entrevista (1),
Dalton Trevisan contou que no início de sua carreira, ainda inseguro, procurou
a ajuda de Temístocles Linhares, crítico curitibano que ele admirava, entregando-lhe
um trabalho para apreciação.
Este, sem avisá-lo, encaminhou o texto recebido para a
editora José Olympio. Trevisan só ficou sabendo ao se deparar com o livro (Noites
de Insônia) na vitrine de uma livraria. Posteriormente Linhares foi colaborador
da revista Joaquim (1946-1948), editada por Trevisan.
Alem de crítico literário respeitado no país e no exterior,
Temístocles Linhares foi professor da UFPR, onde dirigiu o Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes. Era formado em direito e atuou também como empresário
na indústria de erva-mate, atividade familiar.
Escreveu para jornais, revistas e publicou vários livros,
dentre os quais “Paraná Vivo” (2),
“História Econômica do Mate” (3)
e traduziu para o português a obra “Pioneering on South Brazil” (4), que recebeu o título na versão traduzida
de “Novo caminho no Brasil meridional: a Província do Paraná” (5), onde o Engenheiro inglês Thomas P. Bigg
Wither (1845-1890) narra suas próprias aventuras em três anos de trabalho de
levantamento de dados geográficos nas florestas paranaenses entre 1872 e 1875
para estudo de traçado de uma estrada de ferro que ligaria o Paraná ao Mato
Grosso (Antonina/Miranda). Este livro fez grande sucesso na Europa ao final do
século XIX, tendo então internacionalizado o nome da jovem província do Paraná
e foi redescoberto por Temístocles Linhares que o publicou no Brasil quase um século depois. “Paraná Vivo”, publicado em
1953 (ano do centenário da emancipação política do estado) e reeditado em 1985
pela mesma editora mereceu ainda uma nova impressão em 2000 pela Imprensa
Oficial do Paraná. Nele, o estado do Paraná é retratado sob aspecto social,
econômico e político, com retrospectiva histórica e tendências futuras e é
considerado um documento marcante de uma época de esforços visando à
modernidade e estímulo ao desenvolvimento. Neste livro, Temístocles Linhares
dedica um capítulo especial ao aproveitamento do potencial hidrelétrico dos rios
paranaenses. Já naquela época apontou a situação privilegiada do estado com
relação ao potencial de suas bacias hidrográficas, que se por um lado não eram
rios propícios à navegação de longo curso por outro era flagrante a importância
que teriam no futuro em termos de utilização das quedas d’água naturais para
geração de energia elétrica para o país.
No início da década de 1950 havia no Paraná ao redor de 80
empresas atuando no setor elétrico, entre particulares, privadas, estaduais,
municipais e federais. A demanda estadual se situava em aproximadamente 28 MW
médios, que comparativamente a demanda de 2010 (perto de 2800 MW médios)
demonstra o elevado crescimento verificado desde então e justifica o título “Fome
de Eletricidade” dado ao capítulo do livro.
Foi diante deste cenário que o governo estadual decidiu
aumentar sua presença no setor, e para tanto, em Outubro de 1954, na gestão do
governador Bento Munhoz da Rocha Neto (6)
foi criada a Companhia Paranaense de Energia Elétrica, empresa estatal que passou
a funcionar no ano seguinte. A primeira diretoria nomeada foi composta de
presidente e mais dois diretores: Temístocles Linhares como Diretor Presidente,
Pedro Viriato Parigot de Souza como Diretor Técnico e Heraldo Vidal Correia
como Diretor Administrativo. Esta diretoria permaneceu no período de 28/03/1955
a 22/02/1956, pois em 31 de Janeiro de 1956 tomou posse Moisés Lupion,
governador eleito em 1955, que era de partido de oposição e indicou novos
diretores.
O vasto currículo intelectual de Temístocles Linhares é bastante lembrado, porem o exercício pioneiro da presidência executiva da hoje Companhia Paranaense de Energia é relativamente pouco conhecido. Foi, entretanto, um privilégio para o setor elétrico ter contado com o trabalho deste personagem de notável capacidade já no primeiro ano de vida de uma empresa que se tornou mais tarde uma das principais do setor.
O vasto currículo intelectual de Temístocles Linhares é bastante lembrado, porem o exercício pioneiro da presidência executiva da hoje Companhia Paranaense de Energia é relativamente pouco conhecido. Foi, entretanto, um privilégio para o setor elétrico ter contado com o trabalho deste personagem de notável capacidade já no primeiro ano de vida de uma empresa que se tornou mais tarde uma das principais do setor.
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1-Entrevista com Dalton Trevisan: Nelson de Oliveira (SP)
2-Paraná Vivo, Livraria José Olympio Editora, 1953
3-História Econômica do Mate, Livraria José Olympio Editora, 1969
4-Pioneering on South Brazil, Thomas P. Bigg Wither, Editor John Murray, 1878
5-Novo caminho no Brasil meridional, Livraria José Olympio Editora e UFPR, 1974
6-O governador Bento Munhoz da Rocha Neto se
desligou do governo em 03/04/1955 para assumir o Ministério da Agricultura do
governo federal. Foi substituído de imediato pelo presidente da assembléia
Antonio Anibelli e posteriormente por Adolfo Oliveira Franco, este eleito pela
assembléia para concluir o mandato até 31/01/1956.
Território do Iguaçu
Em 1943 o presidente Getúlio Vargas
criou cinco territórios federais em áreas de fronteiras e dentre eles o
Território do Iguaçu, nas regiões oeste dos estados do Paraná (ao sul do Rio
Ivaí) e Santa Catarina, tomando do Paraná mais de um quarto de sua área.
Foi tentado inicialmente dividir atribuições entre Copel e DAEE, porem era evidente que continuariam a haver sobreposição de funções, no entanto a empresa e o órgão estadual conviveram assim por longos anos (até 1966). O descontentamento e pressão popular, entretanto, não diminuiu até que aos poucos usinas hidrelétricas de grande porte foram sendo construídas, os sistemas de transmissão interligados e as termelétricas regionais definitivamente desativadas.
Durante o governo de Ney Braga (1961-1965) e
posteriormente no governo Paulo Pimentel (1966-1971) a Copel foi dirigida pelo
Eng. Pedro Viriato Parigot de Souza (1916/1973) (7)
e o estado finalmente colocou em prática um plano consistente, quando usinas de
maior porte entraram em operação e os sistemas de transmissão começaram a
interligar as regiões. Adicionalmente deu-se início as interligações
interestaduais com São Paulo (Uselpa-Usinas Elétricas do Paranapanema) e Santa
Catarina (Sotelca-Usina Termoelétrica de Tubarão).
A Copel era sócia da empresa Uselpa que construiu as
usinas de Salto Grande (1958) e Jurumirim (1962) e mais tarde Xavantes (1971)
no rio Paranapanema. Em 1963 entrou em operação a Usina termoelétrica (a carvão)
de Figueira (20MW) (8) para reforçar
o abastecimento da região central e norte do estado, em 1967 a Hidrelétrica
Salto Grande do Iguaçu (15MW) para a região sul e em 1970 a Hidrelétrica Júlio
Mesquita Filho (44MW) para as regiões oeste e sudoeste.
Na década de 1960, em Curitiba e em Paranaguá a Copel se
obrigou a instalar grandes centrais a diesel (17,5MW e 5,5MW respectivamente)
em caráter de emergência em função de descompasso entre produção e demanda,
agravados por fatores climáticos. As tarifas de energia vinham sendo
gradativamente defasadas há algum tempo, o que levou a CFLP, concessionária que
atendia Curitiba, e muitas outras pelo país a restringirem investimentos em
ampliação da oferta. Mais tarde esta situação motivou o desencadeamento da estatização
do setor. Em 1962 se verificou em Curitiba uma grande seca, o que comprometeu a
oferta de energia das hidrelétricas que abasteciam a região (Guaricana e
Chaminé) e desencadeou o racionamento de energia elétrica na capital.
A Copel então adquiriu três grupos geradores movidos a
diesel, com capacidade total de 9.000kW em operação permanente e 10.500kW por
curtos intervalos de tempo. Instalou-os em um terreno cedido pela prefeitura no
bairro do Capanema, em frente ao estádio Durival Britto e Silva e colocou-os em
funcionamento em junho de 1963. Mais tarde, outros dois grupos diesel foram
adicionados a esta central, elevando seu potencial para 17.500kW.
Esta situação foi necessária pelo menos até a entrada em
operação da Subestação de Campo Comprido (10/1965), que se interligava a linhas
de transmissão de outras regiões. Esta central diesel, entretanto, só foi
desmontada em 08/1970, sendo que três grupos geradores foram destinados para
Manaus em 12/1970 e os outros dois para
Belém em 05/1971.
Gradativamente a Copel foi assumindo definitivamente o
serviço em quase todo o estado (9),
e a década de 1970 marcou fatos relevantes, como a inauguração da Usina
Hidrelétrica Capivari-Cachoeira em 1971 (250MW) (10),
obra de engenharia avançada por ser totalmente subterrânea, aproveitando o
desnível de 740m entre dois rios, o Capivari e o Cachoeira, tendo sido escavado
15 km de túnel adutor atravessando a Serra do Mar, com impacto positivo na
disponibilidade de energia para o estado, principalmente para a capital e o
litoral. Foi neste período também que a Copel incorporou a distribuição de
importantes regiões: Curitiba, que era atendida pela Companhia Força e Luz do
Paraná, Ponta Grossa, pela Cia Prada de Eletricidade (11) e União da Vitória(PR)/PortoUnião(SC) pela
empresa Alexandre Schlemm em 1973 e Londrina, pela Empresa Elétrica de Londrina
SA em 1974. Em 1978 incorporou a Cia Força e Luz de Irati e um pouco mais tarde
a Cia Hidrelétrica do Paranapanema, que atendia vinte municípios no norte
pioneiro.
_____
7-Pedro Viriato Parigot de Souza era especialista em hidrologia e foi diretor do Centro de Pesquisas e Estudos de Hidráulica e Hidrologia da Universidade Federal do Paraná (CEHPAR). Foi presidente da Copel entre 10/02/1961 a 02/06/1970, onde se tornou uma figura de destaque na história da empresa. Como vice-governador de Haroldo Leon Peres, assumiu o governo do estado, após a renúncia de Peres, em 23/11/1971 e morreu em 11/07/1973 no exercício do mandato.
8-A Usina Termoelétrica de Figueira SA (UTELFA) foi constituída como uma empresa de economia mista, tendo por objeto o planejamento, a construção e a exploração de uma usina Termoelétrica no Distrito de Figueira, Município de Curiuva, Estado do Paraná, destinada a consumir carvão da bacia carbonífera paranaense. Foi adquirida pela Copel em 1969.
8-A Usina Termoelétrica de Figueira SA (UTELFA) foi constituída como uma empresa de economia mista, tendo por objeto o planejamento, a construção e a exploração de uma usina Termoelétrica no Distrito de Figueira, Município de Curiuva, Estado do Paraná, destinada a consumir carvão da bacia carbonífera paranaense. Foi adquirida pela Copel em 1969.
9-Ainda há sete
municípios paranaenses atendidos por outras distribuidoras, quais sejam: Campo
Largo (COCEL), Guarapuava (CFLO), Coronel Vivida (CFLCV), Rio Negro (Celesc),
Jacarezinho, Ribeirão Claro e Barra do Jacaré (CPFL Santa Cruz). O Município de
Porto União (Santa Catarina) é atendido pela Copel.
10-A Central Eletrica Capivari-Cachoeira S.A. (Eletrocap) foi
constituída para a construção da usina e foi incorporada pela Copel logo após o
término da obra.
11-A “Prada” fazia parte das empresas do
Comendador Agostinho Prada (1885-1975), empresário que atuava em vários ramos
de atividade como fábrica de chapéu e telefonia. Alem de Ponta Grossa, foi
concessionário de distribuição de energia elétrica em outras cidades, incluindo
Uberlândia (desde 1929), que também em 1973 foi vendida (para a Cemig).
Regiões
|
Usinas
|
Principais
Municípios
|
Leste
|
Guaricana, Chaminé, Marumbi, Serra
da Prata, térmicas a diesel em Paranaguá e Curitiba, Capivari-Cachoeira (1971)
|
Curitiba, Paranaguá, Morretes,
Antonina, Campo Largo, São José dos Pinhais
|
Central e Norte
|
Figueira, Mourão I, Salto Grande (Uselpa), Jurumirim (Uselpa), Xavantes (1971)
|
Ponta Grossa, Londrina, Maringá,
Campo Mourão, Cianorte, Apucarana, Cornélio Procópio, Andirá
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Sul
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Salto Grande do Iguaçu
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União da Vitória, Irati, Guarapuava
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Oeste, Sudoeste
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Ocoi, Melissa, Cavernoso, Chopim I, Julio Mesquita Filho (1970)
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Foz do Iguaçu, Cascavel, Guaira,
Laranjeiras do Sul, Pato Branco, Francisco Beltrão
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A concessão do grande potencial energético do rio Iguaçu
foi disputada nas décadas de 1970 e 1980 entre o governo federal e estadual,
sendo que de início a concessão das Usinas de Salto Osório e Santiago foi
outorgado para a Eletrosul (subsidiária da Eletrobrás), mas posteriormente
outros três aproveitamentos ficaram com a Copel: Foz do Areia, Segredo e
Caxias.
Integração Paranaense
A década de 1960 ficou marcada no Paraná como um período de grandes obras
de infra-estrutura e a de maior evidência foi a construção e pavimentação da
Rodovia do Café (1), inaugurada em
meados da década, ligando a região norte e noroeste do estado ao litoral, mais
especificamente o trecho de Apucarana a Ponta Grossa, encurtando a viagem à
Curitiba e ao porto de Paranaguá. Até então a rica região cafeeira paranaense
dispunha de mais facilidades de vias para São Paulo e o porto de Santos e
conseqüentemente a sua população se identificava muito mais com o estado
vizinho, até porque a maioria dos que migraram para esta nova fronteira
agrícola vieram de lá. Daí a importância desta estrada como fator de integração
social e econômica e de induzir em seus novos habitantes uma maior
identificação com o Paraná.
Mas não foi só em obras de transporte que se buscou a transformação do
estado neste período. No setor de energia elétrica também foram relevantes as
iniciativas de governo, principalmente nas áreas de produção e transmissão,
transformando sistemas elétricos locais e isolados em sistemas regionais e
interligados, que aos poucos se integraram ao sistema nacional.
Os requisitos básicos para a implantação de sistemas de transmissão
interligados foram estabelecidos nesta mesma época com a padronização das
tensões (1957) e da freqüência (recomendação de 60 Hz em 1961) e há muito tempo
era conhecido o grande potencial hidroelétrico paranaense. Porém em 1960 no
Paraná só operavam dois sistemas de transmissão, um na região leste e outro no
norte. No leste eram as linhas de 66 kV das usinas da Companhia Força e Luz do
Paraná (CFLP) desde as Usinas de Chaminé (1931) e Guaricana (1957) até Curitiba
e no norte a linha de 88 kV da Usina Salto Grande (Uselpa-1958) passando por
Andirá e Cornélio Procópio até Londrina (havia ainda uma linha ligando a Usina
Mauá, depois batizada de Hidrelétrica Presidente Vargas, e a indústria Klabin
no município de Telêmaco Borba).
Até então, quase todos os pequenos e médios municípios que contavam com
eletricidade possuíam produção local de pequenas hidroelétricas localizadas em
rios muito próximos e, ou de usinas a óleo diesel e eram em sua maioria assistidos pelo DAEE (Departamento de Águas e
Energia Elétrica) para prover suas necessidades de implantação ou ampliação
destas pequenas instalações. Pode-se imaginar a tarefa inglória desta missão e
todo o esforço deste órgão não era suficiente para aliviar a situação.
Alem do DAEE, a Copel havia sido criada em 1954 e após se estruturar
começou também a atuar em alguns municípios e desenvolver seus projetos de
produção e transmissão e a década de 1960 e começo da de 1970 foi um marco em
sua história pelo volume de empreendimentos realizados. Como empresa de economia
mista controlada pelo governo estadual suas ações tiveram o amparo dos
governadores Ney Braga entre 1961 e 1965 e Paulo Pimentel entre 1966 e 1971.
Porém por quase todo estes dois mandatos foi mantido na gestão da Copel o
Engenheiro Pedro Viriato Parigot de Souza (entre 1961 e 1970), mais tarde
também governador (2). Coube a ele
colocar em prática um ambicioso plano de eletrificação estadual.
As principais cidades do estado contavam nesta época com concessões de
distribuição de empresas privadas. Curitiba era concessão da CFLP, Ponta Grossa
da Prada, Londrina da EELSA e União da Vitória da Alexandre Schlemm.
Entretanto a capacidade de produção local destas companhias passava por
crises de oferta, principalmente em épocas de fortes estiagens e, portanto, o
caminho estava aberto para que a Copel passasse a ser fornecedora de energia em
grosso para elas. Para tanto, teria que fazer fortes investimentos em produção
e transmissão.
Dois planos de eletrificação foram estabelecidos e seguidos, um em cada governo e neste meio tempo (1966) transferido toda a responsabilidade pela eletrificação do estado para a Copel, deixando para o DAEE (3) as atribuições mais adequadas a sua vocação.
Dois planos de eletrificação foram estabelecidos e seguidos, um em cada governo e neste meio tempo (1966) transferido toda a responsabilidade pela eletrificação do estado para a Copel, deixando para o DAEE (3) as atribuições mais adequadas a sua vocação.
Geração e Intercâmbio - Foram
construídas cinco usinas, cada uma voltada para uma região:
-A principal delas, para a região leste (Curitiba e Litoral) a Usina
Capivari-Cachoeira, mais tarde batizada de Usina Governador Parigot de Souza
(250MW);
-Para a região sul (União da Vitória, Irati, Guarapuava) a Usina Salto
Grande do Iguaçu (15,2MW);
-Para a região central (Ponta Grossa) a Usina Térmica (carvão) de Figueira
(20MW);
-Para a região oeste e sudoeste (Cascavel, Foz do Iguaçu, Pato Branco,
Francisco Beltrão) a Usina Foz do Chopim, batizada de Usina Julio Mesquita
Filho (44MW);
-Para a região noroeste (Maringá, Apucarana, Cianorte, Campo Mourão) a
Usina Mourão I (8,2MW).
Alem disto, foram assegurados três fornecimentos externos:
-Uselpa (São Paulo): Usinas do rio Paranapanema para a região norte
(Londrina, Cornélio Procópio, Andirá e região), por participação do estado no
investimento dos aproveitamentos de Salto Grande e Xavantes;
-Sotelca (Santa Catarina): Usina Térmica Jorge Lacerda (4) para a capital
(a linha de transmissão 220 kV de interligação foi construída pela CFLP);
-ANDE (Paraguai): Foi feito um acordo para fornecimento à região oeste pela
Usina de Acaray através de uma interligação em Foz do Iguaçu.
Transmissão - Para
o escoamento da energia das usinas até os centros de consumo foram construídas
linhas de transmissão de variadas tensões (220kV, 132kV, 88kV e 66kV) e
subtransmissão/distribuição (33kV/13,2kV), além de quase uma centena de
subestações de transmissão nas tensões de 220, 132, 88 e 66 kV e subtransmissão
33kV (5).
A primeira linha de 220kV foi entre a Usina Figueira e a subestação de
Ponta Grossa Norte. Posteriormente uma linha de mesma tensão foi construída
entre Ponta Grossa e a subestação de Campo Comprido em Curitiba. Estas linhas,
entretanto, operaram em 132 kV até a inauguração da Usina Capivari-Cachoeira
(1971). Este foi o embrião da rede de 230kV que transporta a energia para todo
o estado.
Ao final de 1971 o Paraná já possuía então um sistema elétrico estadual com
várias interligações de transmissão, conexões de suprimentos externos com São
Paulo (Uselpa) e Santa Catarina (Sotelca) e em vias de implantar um intercâmbio
com o Paraguai. Estava, portanto, nascendo a base do que é o sistema elétrico
da Copel até os dias atuais.
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1-Anteriormente a principal ligação entre o norte do estado com a capital era a estrada do Cerne (PR-090), que possui um traçado quase paralelo à rodovia do café, porem mais ao norte.
(2) Em 1971 Parigot de Souza era o vice-governador e no mesmo ano, com a renúncia do titular, assumiu o governo estadual. Morreu em 1973 no exercício da função.
(3) O Decreto 3.209 de 14 de fevereiro de 1973 alterou a denominação do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) para Administração de Recursos Hídricos (ARH).
1-Anteriormente a principal ligação entre o norte do estado com a capital era a estrada do Cerne (PR-090), que possui um traçado quase paralelo à rodovia do café, porem mais ao norte.
(2) Em 1971 Parigot de Souza era o vice-governador e no mesmo ano, com a renúncia do titular, assumiu o governo estadual. Morreu em 1973 no exercício da função.
(3) O Decreto 3.209 de 14 de fevereiro de 1973 alterou a denominação do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) para Administração de Recursos Hídricos (ARH).
4-Em 1958 ocorreu um desastre aéreo no aeroporto de
São José dos Pinhais onde morreram os políticos catarinenses Nereu Ramos
(ex-governador e ex-presidente da república) e Jorge Lacerda (governador em
exercício de Santa Catarina). Lacerda nasceu no Paraná (Paranaguá) e a
iniciativa de construção da termelétrica foi de seu governo.
5-De 1957 a 1973
as tensões padronizadas eram aquelas. Em 1973 foram alteradas por decreto para
230, 138, 69, 34,5 e 13,8 kV.
Fome de Eletricidade
Apesar da importância que os empreendimentos de Figueira, Mourão I,
Salto Grande do Iguaçu, Foz do Chopim e Capivari-Cachoeira tiveram nesta fase
de integração elétrica estadual, logo se tornaram insuficientes, pois a fome de
eletricidade parecia não ter limites. Passada esta primeira fase, percebeu-se
que os investimentos teriam que ser direcionados para empreendimentos de maior
vulto, ou seja, usinas de capacidade bem maiores que estas. O rio Iguaçu era o
de maior vocação para este fim e os estudos foram direcionados para otimizar os
aproveitamentos. Deixaram-se de lado então projetos antigos, mas de pequeno
porte, como a construção da Usina Mourão II (Salto Natal) ou a ampliação da
Usina Figueira, em favor das novas usinas do Iguaçu. Alem disto, esta
otimização resultou na prematura desativação e desmontagem das Usinas de Salto
Grande do Iguaçu e Foz do Chopim. A primeira hidrelétrica de grande porte do
rio Iguaçu foi Salto Osório, construída pela Copel, mas a concessão ficou para
a Eletrosul. Depois vieram Salto Santiago (também da Eletrosul), Foz do Areia
(cujo reservatório afogou a Usina Salto Grande do Iguaçu), Segredo e Caxias
(cujo reservatório afogou a Usina Foz do Chopim), as três da Copel.
Hoje no estado se situa um parque hidrelétrico de
grandes proporções, como as da bacia do rio Iguaçu: Foz do Areia, Segredo,
Caxias, Salto Osório e Salto Santiago, porem em grande parte estas usinas se
localizam em rios de fronteira, como o Paranapanema que divide o Paraná com São
Paulo: Xavantes, Salto Grande, Canoas, Capivara, Taquaruçu e Rosana e o no rio
Paraná que divide o Brasil com o Paraguai a Usina de Itaipu (maior
aproveitamento hidrelétrico do planeta em capacidade de geração e segunda em
potência instalada desde a construção da hidrelétrica chinesa de Três Gargantas).
A partir de 2000 até 2010 foram construídas várias
usinas pequenas e médias (térmicas e hidráulicas) por iniciativa de produtores
independentes de energia alem das Hidrelétricas de Santa Clara (2005) e Fundão
(2006), com capacidade de 120 MW cada, ambas de propriedade da “Elejor Centrais
Elétricas do Rio Jordão”.
Está em andamento a obra de construção da Usina Mauá
(360 MW), no rio Tibagi, em parceria da Copel com a Eletrosul.
MRT
Em tempos de universalização da energia elétrica no Brasil, depois de
sucessivos programas visando levar o atendimento aos locais mais remotos do
país e através de programas sociais viabilizar as ligações de consumidores sem
condições financeiras para bancar os custos, finalmente as taxas de atendimento
alcançaram níveis satisfatórios. Atualmente o programa “Luz para Todos” segue
em curso, mas seus resultados já são bastante expressivos.
Especialmente nas áreas rurais a tarefa de levar energia aos rincões de um
país com a extensão territorial do Brasil não é uma tarefa trivial tampouco
barata. Se considerada apenas a taxa de retorno é antieconômico, mas não deixa
de ser essencial (obrigatório até) como fator de inclusão social. Para os
cidadãos urbanos poucos devem ainda lembrar como se vivia sem eletricidade, mas
para muitos habitantes rurais a eletricidade até outro dia era ainda apenas um
sonho, isto em pleno século XXI.
Por ser muito cara a capilarização das redes de distribuição de média
tensão, a utilização em larga escala de sistemas “Monofásicos com Retorno pela
Terra” (MRT) foi de encontro à desejada redução dos investimentos necessários.
Ligações de pequenas propriedades rurais através de sistemas MRT são
realizadas derivando das redes trifásicas ramais monofásicos (um fio) e
instalando transformadores monofásicos cujo retorno de corrente se faz pelo
aterramento. A redução do custo é obtida pelo menor nível de isolamento a que
os equipamentos e acessórios (transformadores, pára-raios, chaves, isoladores,
etc) destas redes necessitam.
Sistemas MRT encontram-se bastante difundidos pelo país, mas seu
pioneirismo no Brasil se deve ao engenheiro paranaense Clodoveu Holzmann (1). Depois de ler um artigo sobre a redução de
custos comparativos de um sistema implantado nos EUA de 34,5 kV a quatro fios
(retorno pelo neutro) teve a idéia de introduzir algo similar no Paraná.
Como trabalhava na Copel e a empresa já utilizava sistemas de
subtransmissão 34,5 kV, porém a três fios, ao invés de adicionar o quarto fio e
como o retorno pela terra já era conhecido, este tipo de arranjo se apresentava
como uma alternativa mais econômica ainda. Implantou então um projeto piloto de
um sistema MRT neste nível de tensão entre a cidade de Ponta Grossa e a
localidade de “Vila Velha” (2) em
1967. Verificado seus resultados favoráveis, a Copel passou a partir de então a
incorporar em suas normas e padrões esta inovação.
Hoje a rede de 34,5 kV paranaense tem dupla função. Funciona como
subtransmissão, alimentando subestações abaixadoras (34,5/13,8kV) e
adicionalmente atende consumidores trifásicos e MRT. Este é o arranjo que
atende grande parte das regiões urbanas e rurais da área de concessão da Copel,
que abrange quase todo o estado do Paraná e que muito facilitou atingir as
elevadas taxas de atendimento à sua população rural (perto de 100%).
Longe de ser uma unanimidade naquela época e mesmo hoje em dia, é inegável
o mérito do MRT quanto aos custos favoráveis, viabilizando o seu emprego em
regiões de baixa densidade de carga (ou pelo menos melhorando a relação
benefício/custo). Muitos profissionais destes anos pioneiros lembram bem de
como o Eng. Clodoveu defendeu de forma brilhante o uso do MRT como uma solução
econômica para distribuição de energia elétrica em reuniões, debates,
seminários, etc.
Foram muitas as contribuições técnicas do Eng. Clodoveu Holzmann nas
empresas em que trabalhou, especialmente na Copel onde foi o responsável direto
pelo planejamento de seu sistema de transmissão, mas pela importância do MRT
nas redes de distribuição brasileiras e particularmente no Paraná, será sempre
mais lembrado pelo seu pioneirismo nesta tecnologia.
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1-Natural de Ponta Grossa/PR, o Engenheiro Eletricista Clodoveu Holzmann (1921/2008) é reverenciado no Paraná pelo seu trabalho no planejamento, concepção e implantação dos sistemas elétricos de transmissão e distribuição da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Formado em 1946 em Itajubá, trabalhou na Light/SP, Cia Prada de Eletricidade (Ponta Grossa), DAEE/PR e na Copel (de 01/04/57 a 31/03/87). Paralelamente, foi professor da Universidade Federal do Paraná, até 1977.
2-Vila Velha é uma localidade onde se situa um parque e que é uma das grandes atrações turísticas paranaense. Lá se encontram antigas formações rochosas lapidadas por erosão que hoje se mostram em variadas formas.